segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

SACERDÓCIO – QUEM "FEZ" O PRIMEIRO?

4 04UTC Janeiro 04UTC 2009
Muito se fala em “linhagem”, “origem” e “reconhecimento” em termos de sacerdócio dentro das religiões de matriz africana. Alguns Terreiros de Candomblé mais tradicionais conseguem traçar a genealogia de seus dirigentes que, pelo menos em tese, chegaria ao fundador do mesmo ainda nos tempos da escravidão no Brasil.
Este é o caso, por exemplo, da Casa das Minas (Querebentan de Zomadônu), que segundo Pierre Verger foi fundada por Nã Agotimé, da família real de Abomey, esposa do Rei Agonglô, mãe do Rei Guezô do Daomé, trazida como escrava para o Brasil, e aqui conhecida pelo nome de Maria Jesuína.
Na mesma linha, temos o famoso Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador, Bahia, fundado por Iyá Detá, Iyá Kalá, Iyá Nassô e Babá Assiká, Bangboshê Obitikô. Aliás, a sucessão deste Terreiro levou a uma cisma interna, onde alguns dissidentes, após a morte de Iyá Marcelina da Silva, fundaram o não menos famosoTerreiro do Gantois. Um pouco mais adiante, nova divergência sobre a chefia do Ilê com a morte de Mãe Sussu, o que acarretou nova dissidência que fundou o Ilê Àsé Opô Afonjá.
Dentro da Umbanda, não há casos famosos de sucessão sacerdotal, visto se tratar de uma religião relativamente nova, sendo, acredito, a mais pública e notória (assim como polêmica) a de W.W. da Matta e Silva (Mestre Yapacani), que SUPOSTAMENTE deixou F. Rivas Neto (Mestre Arapiaga) como seu sucessor.
Apesar deste último afirmar em várias de suas obras que existe um vídeo que comprova a transmissão do comando da Raiz de Guiné à ele, não tenho notícias de alguém, fora do seu círculo, digamos, de “colaboradores próximos”, que o tenha assistido. Não é novidade, porém, que os antigos Mestres da Raíz de Guiné, como Itaoman, Arabayara, Yassuamy, jamais o reconheceram como sucessor do insígne Mestre Yapacani, sendo que o próprio Mestre em uma de suas obras diz que não recebeu ordens do Astral para passar o comando à ninguém.
Listei algumas sucessões apenas para ilustrar o quanto isto é importante no meio religioso de matriz africana. Mas o assunto que queremos tratar, dando prosseguimento ao tema “sacerdócio”, é outro.
A grande pergunta, aliás que sempre era repetida pelo grande AluwôAgenor Miranda é: QUEM “FEZ” O PRIMEIRO SACERDOTE? Ou seja, em outras palavras, quem iniciou, consagrou, raspou, catulou, coroou o primeiro Baba’lAwô ou Baba’lOrisá?
Não há como responder à isto, obviamente.
As tradições religiosas, assim como tudo que é humano, sofre modificações, adaptações e, principalmente, deturpações (que o diga a Doutrina de Pai Guiné).
Com certeza, o primeiro sacerdote não passou por ritos iniciáticos na esfera material e sim espiritual. Exemplo disto temos na própria Bíblia, onde Deus dita a forma como o Culto à Ele deveria ser feito pelos judeus, como os sacerdotes deveriam se portar, vestir, até mesmo como o Templo deveria ser. Vemos também situações semelhantes no Islamismo e na Fé Bahá’i, apenas para citar alguns.
Esta consideração nos leva a responder outras perguntas que ficaram abertas: quem iniciou Zélio de Moraes, W.W. da Matta e Silva eBenjamin Figueiredo? Coloco nesta pequena lista Carlos Buby e oSr. João da Silva.
É claro que qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento da história da Umbanda e seus luminares, responderá que Zélio foi iniciado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, Matta e Silva por Pai Guiné, Benjamin Figueiredo pelo Caboclo Mirim e Carlos Buby peloCaboclo Guaracy. Nenhum destes iminentes umbandistas tiveram iniciador encarnado, portanto, de acordo com alguns beócios de plantão, não possuem “origem”, “linhagem”, “reconhecimento”?
O engraçado que tal falácia vem sempre de pessoas ligadas à Rivas Neto, portanto netos-de-santé de Matta e Silva que, repito, não teve iniciador humano. Sendo assim, pela lógica destes falaciosos, Mestre Yapacani não teve “origem” e nem “linhagem”, portanto eles também não. Simples, não é?
Mas, infelizmente, são estúpidos demais para pensar nisto ou, como sempre fazem, as suas “regras” se aplicam somente aos outros (em especial aos desafetos) nunca a eles mesmos.
O próprio Pai da Matta, em sua obra “Doutrina Secreta de Umbanda“, nos ensina:
(…) Bem sabemos que são inumeráveis os desiludidos por via desses fatores reais. Sabemos que se contam ás centenas os simpatizantes, adeptos e mesmo iniciados inconformados e muitos até envolvidos pela sombra da descrença, dado que confundiram, misturaram o que era do humano médium como o que pensaram ser do próprio Guia ou Protetor. Conceitos errôneos adquiridos por força de tantos impactos, de tantos fracassos e de tantas desilusões… humanas, é claro.(…)
Por estas e por outras, oh! irmão, não é que Você vai deixar de se filiar diretamente à Sagrada Corrente Astral de Umbanda, composta essencialmente dos Guias e Protetores astrais; passe por cima dessa subfiliação que implica em Você se deixar cair, ou envolver, na faixa vibratória de um médium qualquer, quer seja chefe-de-terreiro, pai ou mãe de santo, tata ou lá o que for.
Prossegue o saudoso Mestre:
Isso porque as condições reinantes de chefia, doutrina, ritual e magia são dúbias, e Você sendo uma pessoa que lê, estuda, perquire e compara, na certa não vai, nem deve, submeter-se a um “quiumba” qualquer, arvorado a caboclo ou preto-velho…
Você, sendo um verdadeiro “Filho de Fé” da Corrente Astral de Umbanda, não deve ficar na dependência e no temor dos “caprichos de A ou B”, sabendo que o elemento mediúnico é humano, é “aparelho” sujeito a desgaste, erro, subversão de sua própria mediunidade ou dom…E mesmo que o médium seja bom, positivo, correto, esclarecido com bons Guias e Protetores, está sujeito a morrer, adoecer e a errar também, podendo inclusive surgir um problema qualquer no terreiro com Você e conseqüentemente afastamento; portanto, a filiação direta e tão somente a faixa espíritica, moral e vibratória de um “chefe de terreiro”, não é o bastante para lhe acobertar de eventuais problemas ou decaídas mediúnicas, cisões, etc…(…)
Então não convém a ninguém (adepto ou iniciado) ficar sujeito a essas eventualidade ou condições, mesmo que o médium seja da linha reta, em tudo por tudo. Não mantenha ilusões… estamos dando um recado, que vem muito de cima e na de baixo…
O que lhe convém é se pôr a coberto de qualquer uma dessas eventualidade, se filiando por cima de tudo isso e diretamente à Corrente Astral de Umbanda – a Cúpula Astral, composta dos Guias Espirituais, que são os seus legítimos mentores… e esses jamais subverterão essa cobertura, essa proteção, porque não são humanos, não são médiuns etc…
Acredito que Pai da Matta disse tudo, não é mesmo?
Certamente o arguto leitor estará se perguntando: quem afinal é o Sr. João da Silva?
Foi um médium que conheceu a Umbanda aos dezessete anos de idade e manteve sua Casa de culto aberta por mais de sessenta anos em Belo Horizonte. Tinha a cobertura espiritual de Pai Domingos da Cruz, do Caboclo Sr. Sete Montanhas e do Exu Sr. Sete Matas.
Nunca teve iniciador humano, jamais escreveu um livro sequer (mesmo porque era praticamente um analfabeto funcional), não aceitava que o chamassem de “Pai”, “Pai-de-Santo”, “Babalorixá”, ou seja lá qual título fosse, sendo tratado carinhosamente, até sua morte, como “Tio João“.
Tive o prazer e a honra de ser o “Pai Pequeno” (por falta de termo melhor) da pequena “Casa Espirita de Umbanda Pai Domingos da Cruz“, onde aprendi muito com aquele que para alguns seria “sem origem” e, com certeza, em a sua simplicidade e verdadeira humildade, nos presenteava com profundas lições sobre a Umbanda e o Mundo Espiritual.
Como o finado e saudoso Tio João, aquele anônimo trabalhador da Seara Umbandista em Belo Horizonte, temos outros milhares, que receberam suas “Ordens e Direitos” do Mundo Espiritual, que os amparou e ampara em suas jornadas mediúnicas.
Portanto, não há de se preocupar, caro leitor e Irmão-na-Fé, com títulos e reconhecimento de ninguém. Apenas faça o seu trabalho e deixe a “gíra girá”.

Texto extraído do blog http://vozesdearuanda.wordpress.com

UMBANDA E A PRÁTICA DA FALSA CARIDADE

3 03UTC Novembro 03UTC 2008
Fora da Caridade não há salvação.
Esta é a máxima seguida – pelo menos dizem que seguem – pela maioria daqueles que se declaram espíritas e umbandistas.
Fala-se muito da tal “caridade”, da necessidade de auxiliar àqueles que aos nosso Templos, Tendas, Terreiros e Choupanas acorrem atrás de auxílio para as mais diversificadas mazelas, sejam elas do espírito e/ou da carne.
A “caridade” pregada e praticada – ao que vejo – pela maioria, resume-se em abrir as portas de sua Casa de trabalhoaos necessitados, ouvir suas lamúrias, seus “causos” infinitos, proceder um passe magnético, receitar um banho de “descarga”, um vela para “tratar” do anjo da guarda e muita, muita oração.
Há muito tempo, quando ainda participavamos de um determinado Terreiro de Umbanda “Esotérica”, perguntaram à um “Preto-Velho” sobre o significado real da caridade. A resposta foi:
“A ‘primeira’ caridade é para com você mesmo. Ninguém pode auxiliar necessitando, ele próprio, de auxílio. A ‘segunda’ caridade é com as pessoas que convivem diuturnamente convosco. Se não consegue ter espírito caridoso, mansidão, compreensão, retidão com aqueles que fazem parte de sua vida, como seus familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, como estará apto a auxiliar um desconhecido? Por último, deve pensar que a caridade extrapola os limites do Terreiro, ou seja, o espírito de “caritas” deve estar em você o tempo todo.”
Com base nestes princípíos expostos por “Preto-Velho”, façamos uma análise crítica da “caridade” tão pregada, exigida e colocada como alicerce da prática da Umbanda.
Alguns prestam seus serviços nas reuniões no Terreiro, mas ao chegar em casa sentam-se diante do computador e atacam outros umbandistas pelas diferenças doutrinárias. Fomentam a discórdia, incentivam a guerra fatricida, difamam, caluniam, ameaçam.
Outros, ao sair do Templo, no primeiro erro de outro motorista soltam impropérios, partem para a provocação e querem revidar, de qualquer forma, o erro cometido pelo outro. Chegam em casa destratando seus filhos, suas esposas, enfim, seus familiares.
Dentro do Terreiro, aconselha ao consulente a eximir-se de bebidas alcóolicas, fumo, drogas, mas não passa um dia sequer sem tomar aquele aperitivo, fumar alguns cigarros ou, até mesmo, relaxar tragando a fumaça da “cannabis“.
O “poderoso” dirigente, por absoluta incompetência, proibe seus filhos de ler esta ou aquela obra, frequentar outras Casas de Umbanda, já que teme que estes comprovem que ele é tão neófito como eles mesmos.
É uma caridade falsa, hipócrita, farisáica.
Como dizia o velho Matta e Silva, são um bando de mariposas voando e se debatendo em torno da “banda”, sem saber ao menos definir a origem daquela luz.
Falam de “caridade” da boca para fora, querem tirar a viseira do próximo, mas eles mesmos estão vendados.A falsa caridade está na moda no meio umbandista, com este conceito de que “tudo pode, tudo deve, tudo é aceitável”, esta teoria absurda de que “união”, “diversidade”, “pluralidade” e “convergência” são sinônimos de “condescendência”.
Para muitos, para que se seja “politicamente correto”, devemos aceitar, dentro de nossas próprias Casas, fantasias, matanças de animais, dentre outras práticas estranhas ao nosso próprio rito. Isto, na visão destes hipócritas, é “caridade”, “união” é “convergência”.
A “caridade”, nesta visão fajuta e deturpada da “umbanda do vale-tudo”, é proceder matanças, roupas carnavalescas, beberrança, no intuito de nos aproximarmos dos Irmãos que assim agem.
É uma forma, dizem os defensores de tal absurdo, de nos mostramos “iguais” aos demais.
A “união” estaria expressa em todos fazendo, em conjunto, as mesmas coisas.
A “convergência” seria todos com um mesmo objetivo, mesmo que para isto praticas abomináveis, ao nosso ver, tenham de ser toleradas.
Isto é farisaismo, imposição, ditadura, contradição, preconceito à avessas.
Em meu Terreiro manda o Guia chefe e suas ordens são seguidas à risca. Em nome de conseguir um “crachá” de “caridoso” e “tolerante” não farei matanças de animais, não macularei as areias sagradas de seu Templo com repasto para kiumbas, muito menos me curvarei ao argumento falacioso de que matamos para nos alimentar, então não deveriamos condenar o sacrifício animal afim de servir de “comida” aos Orixás, Guias e Protetores.
Realmente, o homem mata para se alimentar. Isto é um fato.
Contudo, ele ainda carece da proteina animal para sobreviver, ainda assim nem todos. Muitos conseguem viver, muito bem, sendo lacto-vegetarianos. O que nenhum partidário da matança de animais ainda conseguiu me explicar é o motivo de Orixás e espíritos desencarnados, esclarecidos, harmonizados com o Astral, precisarem de sangue. Não consigo conceber que os Orixás, mantenedores da vida, precisam de morte para se sustentarem,

Não há respostas, explicações, teses… nada.
Para, estes sim, “cobras cegas” que engrossam a massa cambaleante desta “era dourada” da Umbanda, não há necessidade de explicações. Não há o que se refutar ou, mesmo que simplesmente questionar, as múltiplas contradições. Apenas, e tão somente, acatar as ordens, cantar loas ao contraditório “pai das sete linhas” e seus discípulos e, apesar da pregação de “convivência pacífica”, “atropelar” qualquer “infiel” que ouse questionar qualquer coisa.
O pior é que ainda aparce um “maria-vai-com-as-outras” para explicar que uma verdadeira ordem iniciática deve adaptar-se “as necessidades mais urgentes da massa umbandista inclusive se travestindo para atender as espectativas desse povo”. (sic)
Expectativas?
Matança de animais é expectativa de alguém que se dirige à um Terreiro “em busca de festas ou para resolver seus casos que nunca terminam”? Tenho 23 anos de Umbanda e JAMAIS tive notícias de um assistente ou visitante que se aproximasse do dirigente de uma Casa e perguntasse quantos animais foram sacrificado para aquela reunião.
Para variar, conversa para “boi dormir”. Os “puxa-sacos”, afim de demonstrarem um “alinhamento”, acabam escrevendo montes de asneiras e complicando ainda mais a situação.

A “caridade” agora, pelo visto, é banquetear KIUMBAS como dezenas de animais diversos mortos e ser aplaudido pela massa acéfala.
Desta caridade absurda, desta aproximação grosseira, desta “diversidade” que fere a minha consciência à favor da alheia, realmente quero distância.

Texto extraído do blog  http://vozesdearuanda.wordpress.com

UMBANDA QUE QUEREMOS E A UMBANDA QUE TEMOS


A Umbanda que queremos é aquela que, a cada gíra, festeja o ciclo de vida, com a presença de Criança (nascimento, infância, inocência), Caboclo (força, juventude), Preto-Velho (sabedoria, maturidade, velhice) e, claro, Exu (morte, como reinício do ciclo). É onde está presente a paz, a harmonia, as virtudes e a humildade.
As pessoas estão em suas fileiras por amor ao Orixás, para a prática incondicional da caridade, pela missão de aproximar o ser humano dos seus Ancestrais e aprender com eles. Não existem títulos, vaidades, supremacias, guerras fatricidas.
A Umbanda que queremos é de UNIÃO.
Onde a palavra “Irmão” tem seu verdadeiro significado respeitado e conhecido, onde existem grandes diferenças mas que são esquecida diante de imensas semelhanças.
A Umbanda que queremos é de PAZ.
Onde guerras fatricidas não ocorram, onde as críticas e os elogios sejam tomados como manifestação do espírito humano, onde as armas estejam abaixadas e só sejam usadas contra o inimigo comum, ou seja, as hostes do astral inferior. Que a nossa luta não seja contra carne e nem sangue, mas contra as potestades, os principados, os dominadores deste mundo tenebroso.
A Umbanda que queremos é de COERÊNCIA.
Que cada um creia no que quiser, pratique o que desejar, mas que suas tradições, conceitos e preceitos, não mudem ao vento das oportunidades ou nas ondas da hipocrisia. Sejamos todos coerentes com as nossas práticas, começando pela matança (ou ausência dela), passando pelas roupas, atabaques ou, simplesmente, uma saudação.
Façamos com aprendemos, mas não vamos cair na incoerência de pregar hoje aquilo que até ontem achavamos errado. Não vamos dar munição aos nosso detratores para que digam ser nossa religião algo mutante.
A Umbanda que queremos é de DIÁLOGO.
Seja ele intra ou inter-religioso, mas que seja pautado na ética, na boa fé, na conduta honesta. Que interesses pessoais, em especial os econômicos, não sobrepujem os da própria religião.
A Umbanda que queremos é da HUMILDADE.
Onde títulos, cargos e honrarias não sejam moeda de troca ou uma forma de intimidação. Onde Orixás, Guias e Protetores, possam se manifestar em um ambiente livre de vaidades, intrigas pessoais ou lutas por poder temporal. Que os verdadeiros dirigente sejam o Povo d’Aruanda, e não seus médiuns em busca de fama e fortuna.
Agora, meu Irmão, reflita: é esta a Umbanda que temos?